domingo, 30 de junho de 2013

S



Atenção: Esse artigo contém spoilers e dos bravos, então só leia após ver o filme.

Quando você cria uma expectativa sobre algo, as chances de você se arrepender são grandes. Tratando-se de um filme feito para a massa de consumo não poderia ser diferente. Entrei no cinema pensando nas palavras de Gabriel de Góes: “Já vá sabendo que o filme será uma merda. Assim, qualquer detalhe interessante valerá a pena.” A maior pena é que poucas coisas realmente salvam.

O filme é ruim, claro que seria. Qualquer filme que use atores para representar um personagem de quadrinhos tem essa chance. O único mérito fica na atuação de Heath Ledger em Cavaleiro das Trevas, na personificação de Coringa, mas aqui estamos tratando de um personagem humano, insano, cruel, violento e caótico... Mas mesmo assim humano. A pergunta que fica é? Mesmo com os recentes quadrinhos, que finalmente deram uma boa imagem ao deus de capa, conseguiriam fazer um bom filme do Super? Bom, ainda não.

O começo quase nos faz acreditar que sim. Somos apresentados a Krypton em seus momentos finais. Cenário completamente alienígena, animais exóticos, vestimentas bizarras e computadores tridimensionais (ao invés da porcaria holográfica). Uma sociedade construída em castas, com uma referência linda a Admirável Mundo Novo, onde por algum motivo bizarro, um cientista sabe lutar melhor do que soldados (Bom, escolheram o Russell Crowe .. não poderia ser diferente) e então a clássica cena da esperança encaminhada a Terra e o sacrifício de dois pais. Até aqui, tirando a cena de luta, tudo tranqüilo.

Ato contínuo, somos apresentados a Jornada do Herói de Jung a base de todo o filme. Um homem perdido, sem propósito definido, em busca do seu lar que reside dento de si (literalmente). Ele é uma lenda, o excesso de controle, um errante e eterno paria. O que podemos absorver de suas histórias são apenas as lembranças de seus momentos de desespero e dúvida na infância e adolescência. Aqui o filme realmente me surpreendeu, o uso de flashbacks são sensacionais, e você começa a acreditar que fizeram um bom trabalho e que o restante será um desfecho sem chances de erros, mas Lois Lane tem que aparecer...

Quando você põe os olhos em Lois Lane você já sabe que o filme perderá totalmente sua convicção e objetividade. A repórter consegue acompanhar os passos de um deus, encarar -40°C por uma boa matéria, sobreviver ao ataque de um robô alienígena, manter-se alerta após uma cauterização, volta para Metrópolis, tenta publicar sua história que é ignorada e como qualquer jornalista que deseja ganhar o Pullitzer, decide publicar sua obra em um blog de reputação duvidosa jogando sua carreira no lixo. Como apenas isso não basta, ela obviamente consegue descobrir a identidade do herói em uma pesquisa fast-food (esta última parte em uma seqüência de pesquisa que durou menos de dois minutos em filme). Se não fosse a conversa sobre o motivo de não se revelar aos humanos, toda essa parte poderia ter sido editada e tacada fora.

Ah, sim. Estamos falando de um filme de ação. Então obviamente os alienígenas chegam a Terra. Como são militares seus objetivos são simplistas e objetivos, eles acessam a mídia de todo o planeta e exigem que entreguem seu Kryptoniano, ou destruirão o mundo que o recebeu. Também, como todo filme de alienígenas invadindo o planeta, todos eles conseguem se comunicar em todos os idiomas graças a algum misterioso mecanismo que ninguém comenta a respeito, mas que é tão obvio que não precisa ser dito. Eis então o momento do Ventre da Baleia, o jovem Clark decide se entregar a humanidade após avaliar os prós e contra (aqui abro um parêntese interessante, a conversa com o Padre com a imagem de Jesus em seu manto vermelho de fundo e a confirmação da idade de Clark Kent em seus 33 anos foi muito boa), desde que, os militares libertem Lois Lane (como diabos ele sabia que ela estava com eles, é um mistério também) e então juntos conversam sobre confiança e dever, antes de serem entregues ao General Zord (o porque ele quis a repórter é outro mistério).

Então o filme vira um besteirol de ficção científica de pior qualidade, com direito a personagem humana que aprende a usar maquinários alienígenas, soldados que não acertam ninguém (mesmo sendo mais rápidos, mais fortes, melhor treinados e geneticamente projetados para tal). A heroína liberta o herói, o herói salva a heroína, vemos o amor de mãe e filho, bla, bla, bla... e então finalmente porrada entre os deuses, com mortais como figurantes. Aqui temos que engolir um homem com poderes recém evoluídos, sem muito treino, lutando quase que de igual para igual com militares muito bem treinados e tudo isso para deixar claro que ele está do nosso lado.

Obviamente a maior cidade do planeta não pode ser deixada de lado, então Metrópolis torna-se uma das arenas da destruição final. Armas alienígenas (Independence Day) de gravidade, pessoas mostrando o quanto são altruístas, planos cooperativos e... Meu Deus, tentáculos! O filme sofre por 10 minutos de frison de anime e você se encolhe de vergonha na poltrona tentando entender, por que diabos veio assistir isso? Felizmente, graças a inspiração do herói e a força da humanidade, TODOS os soldados bem treinados que conseguiram dar um golpe de estado em seu planeta natal são enviados para a Zona Fanstasma, deixando para trás um homem sem nenhum propósito, que ao invés de implorar o seu fim, ou se matar dignamente, decide espancar o último civil de seu planeta. A luta é legal, bons efeitos, você só precisa ignorar uma parte essencial dos quadrinhos onde a experiência de Kal-El sobre seus poderes é muito maior do que a de Zord, mas que se dane! O milico aprende rápido. 

Como não existe um modo de prender um vilão tão forte quanto o Superman é obvio que ele tem que morrer. Afinal, se este filme fizer sucesso terá continuação pessoas. Todo mundo viu a logo da Lexcorp e o satélite da Wayne Industries.

Para não dizer que o filme todo é ruim, as falas entre pai e filho, em sua maioria, são boas. Todas são intimistas e zelam pela construção de um personagem que se tornará um símbolo. Jonathan Kent é o melhor ator do filme. Consegue manter o seu filho, que é capaz de destruir diamantes com as mãos, vulnerável como qualquer criança ao ouvir verdades. Mais uma vez, filmes de heróis, nos provam que enquanto eles não estão vestidos de heróis é que são digno de nota. O sacrifício de um pai é o excelente motivo para se esconder, não revidar quando pode e sofrer por isso é o valor de uma criação balanceada pelo amor incondicional e medo de perdê-lo para o mundo.

- Eles te machucaram?
- Você sabe que eles não podem me ferir.
- Eu sei. Mas você está bem?


Isso valeu a ida ao cinema. E obviamente, ver um cara voando de capa, trouxe um pouco de alegria a criança interior. Pena que tirando isso, pouco salva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário