terça-feira, 5 de maio de 2009

da necessidade da diferença 1.2: Anaximandro, o ilimitado,a verdade, a opinião e a idéia.

Umas das três ou quatro sentenças de Anaximandro que herdamos da doxografia, no estilo absoluto das máximas, do que parece ter sido escrito nas pedras, versa assim:

ex hõn dè he génesís esti tois ousi kaì tèn phthoràn eis tauta gínesthai katà to khréon; didónai gàr autà díken kaì tísin allélois tes adikías katà tèn tou khrónou táxin

Pois donde a geração é para os seres, é para onde também a corrupção se gera segundo o necessário; pois concedem eles mesmos justiça e deferência uns aos outros pela injustiça, segundo a ordenação do tempo

Partindo dessas três linhas poderia me arriscar a dialogar com nosso caro colega luso-goiano, exilado no além mar. Mas antes, o que diabos essa sentença escrita a mais ou menos 2600 anos, passada a nós através de compilações editadas desde a antiguidade (essa mais especificamente é uma citação de Simplício registrada por Diógenes Laércio) poderia tentar nos dizer? Na minha humilde pretensão de ir adiante, para introduzir minha opinião - ou idéia – gostaria de chamar a atenção para o fato de que a filosofia é devedora dos mistérios, devemos pensar em como a filosofia é também mitosofia. De como os primeiros filósofos – como Anaximandro – eram também hierofantes, poetas e providos de forte carga místico-religiosa; em suma: diletos discípulos de Orfeu.

Assim, como a maioria das reflexões dos primeiros pensadores, o fragmento de Anaximandro é uma questão que se direciona para o princípio das coisas, para a ontologia e a origem de tudo que é. Da onde vêm tudo que está no mundo? Que fonte ilimitada é essa que origina tudo e porque tudo que de lá surge, inexoravelmente, chega ao fim? Como o perecível pode se originar no que não tem fim, tanto no espaço como no tempo? Pois, caso a origem não fosse ilimitada, em dado momento pereceria, “segundo a ordenação do tempo”. Acabaria, despedaçando-se no apetite insaciável do tempo, pois nada que foi, é e será, pode escapar desse deus faminto. E também, mesmo que escapasse da ordem do tempo, que espaço ocuparia? Por qual fronteira infinita, nós, seres limitados, deveriam atravessar para fugir do seu incompreensível diâmetro? Externo ao tempo e ao espaço, absurdamente incompreensível ao que é finito e incompleto. Isso é o que o pensamento do filósofo tenta apreender. A isso deram vários nomes, em sua ânsia de compreender o inalcançável: o Fogo de Heráclito, a Água de Tales e, nesse caso, o Apeíron (ilimitado, indefinido) de Anaximandro.

Essa é a tragédia legada a nós, apontada pelos gregos. O vislumbre e a perda desse momento. Da abertura original donde tudo tem princípio, e que nesse instante de origem, atesta o fim futuro de tudo que é, pois teve também passado e começo. Essa é a tragédia ilustrada pela fábula de Nietzsche; quando o ser encara o abismo que guarda no fundo a unidade de tudo que é, e se dá conta de “quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natureza” e que “houve eternidades, em que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido”. Para esse filósofo, mais do que ilimitada, a unidade-de-tudo-que-é seria na verdade, indeterminada. Só o que não possui propriedades determinadas pode ser o princípio de todas as coisas, do contrário “teria nascido (se determinando), como todas as outras coisas, e teria de ir ao fundo” .

E não é isso que estamos tentando fazer desde que, como seres que existem e tiveram início e deverão ter fim, fazemos desde que saímos de dentro do principio anterior a tudo? Voltar a isso? Buscar a Verdade, pensar na Origem. Por isso filosofamos ainda, numa reverberação do primeiro pensamento que, por sua vez, buscou o seu primeiro pensamento. Não seria então o ato do pensamento que permite tentar salta o abismo, em direção ao momento de presença do Ser? Como sugere Heidegger: seria esse “ente em sua totalidade experimentada pré-conceitualmente” o que advém, no seu momento de desvelamento. A idéia antes do conceito, ou de qualquer outra forma que a define? A idéia que vêm antes de qualquer coisa, qualquer linguagem, qualquer direção. Pois a idéia dentro de nós, no momento que surge, ainda não foi determinada por nenhuma outra. Ao se criá-la, o antes indeterminado é agora encarado; o antes ilimitado conhece suas fronteiras e a verdade-para-sí encontra a multiplicidade de opiniões, jogadas por aí pelos outros seres. O embate a transfigura, seu véu é rasgado e agora podemos conhecer a sua face. Racionalizada, historicizada, laicizada, compreendida e criticada – a idéia proferida se desarticula em opinião, sobre a qual, como disse a deusa a Parmênides, “não há certeza”.

3 comentários:

  1. pô me senti meio burro lendo isso. e quanto a essas linhas em grego? é grego mesmo ou você só bateu nas teclas?

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  2. me: coe?
    José: leu o texto do pedro
    tá massa
    me: li. mas ae, achei meio arcano
    José: arcano no sentido vampiro a mascara ou no sentindo que eu desconheço e preciso de explicações?
    me: arcano no sentido de complexo e misterioso, um pouco alem do meu entendimento como mero orelha seca
    José: hahaha

    me: conhecimento arcano
    vai dizer?
    José: total
    me: eu tava tentando deixar tudo o mais mastigado possivel, o cara me vem com uns gregos underground
    maior sinistro
    José: hahaha culto o homem
    demorar para escrever e faz a gente se sentir burro, ótimo professor
    me: e a parte que tem um pedaco em grego antigo? caralho mermao
    apelou perdeu
    José: até mandei aqui para ele: isso é grego mesmo ou vc só bateu na tecla?
    caralho vou comentar isso
    me: nem sei se ele quis discordar de mim ou alguma coisa parecida. deve ter sido, nego sempre discorda
    me: eu honestamente nao sei se eu entendi o mesmo que ele quis dizer. mas ficou bonito
    José: tipo isso
    pensei que foi culpa da ressaca, depois me senti burro, depois pensei em ler mais tarde
    mas ele chegou e falou: e aê? leu? curtiu? era uma resposta ao barahona sacou de qual foi?
    me: porra, me bota nessa sua definicao de burrice ae
    José: pronto publiquei humildemente minha asnice
    me: acho que eu vou eh botar essa nossa conversa
    José: hehehe

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  3. hahaha porra...não tava necessariamente discordando de tu barahona, só dialogando. Já que vc escreveu sobrea difusão da idéia e tals. e aquilo é grego sim, mas relaxa galera,po, eu não sei ler isso não. foi só para ilustrar...

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