quarta-feira, 11 de março de 2009

Epopéia Playboy



Escrevo isso hoje para quebrar paradigmas.

Finalmente, depois de muitos anos, ontem pude assistir o grande clássico de Hollywood e simplesmente o maior clássico da seção da tarde que já existiu. "Ferris Bueller’s day off" ou "curtindo a vida adoidado". Sinceramente o nome em português faz mais sentido que o gringo.

Penso: terei mesmo passado 25 anos da minha vida sem nem sem querer ter visto esse filme? Inacreditável?
Talvez.
Talvez eu até tenha visto e não me lembro.
Talvez essa tenha sido minha chance de ver para crer e enxergar a verdade.
Direto ao ponto: ESSE FILME É UMA MERDA!
O filme se passa no tempo em que computadores eram mágicos e ser hacker era fácil em Hollywood e fala a historia de um playboy, o maior de todos. Que certo dia resolve enganar os pais para matar aula com sua namorada patricinha, vadia e débil mental e seu melhor amigo perdedor (o que só ajuda a exaltar a personalidade do protagonista).
O garoto é um prodígio. Não há desafio a ser vencido no filme. Ferris já nasceu inteligente, vencedor e comprometido com a garota mais bonita da escola. Ah...Sim... Rapidamente também arranja uma Ferrari.
É como pegar um filme adolescente da época e começar pelo final. Mas... não basta apenas ter tudo, o superplayboy exige mais. E mais ele consegue. ferris bueller é demais. Possui o poder de conseguir tudo que quer com um estralar de dedos. o menininho mimado engana os adultos (todos tremendos idiotas) macaulay culkin style. Ele convence o cara da entrada do restaurante que ele (um garoto no fim do ensino médio) seria o rei da salsicha de Chicago. E o imbecil não pede nem identidade. As crianças não pagam a conta, saem do restaurante e se deparam com outro imbecil (o pai de ferris), mas esse, na condição de adulto estúpido é facilmente enganado com apenas um par de óculos escuros "shades". Na época era cool.
ok... o filme entra em montage mode (its the 80s!) e o pessoal se diverte em uma galeria de arte. A patricinha namorada (cujo até o nome eu esqueci de tão insignificante) é um personagem vazio e, portanto faz a única coisa que uma patricinha pode fazer: ser vadia.
Sim, como não fizeram outro personagem feminino significante no filme (a não ser a antagonista), sobra pra própria namorada do protagonista dar encima do brother looser. e ela o faz varias vezes. o superplayboy da continuidade à sua epopéia. vai até um desfile aparentemente de orgulho da germandade e começa o auge do filme. Interessante o fato de ser um desfile de orgulho germânico... sabe por que?
O único negro do filme ajuda o único hispânico a roubar um carro.
O filme tem seu auge com ferris buller cantando Twist and Shout no meio das ruas da cidade e sendo ovacionado por uma enorme platéia. observe que ferris mais uma vez precisou apenas estralar os dedos para conseguir seu próprio carro alegórico com seis tirolesas peitudas.
Sua namorada vazia não sente ao menos ciúme. O resto do filme tem pouca valia.
Mostra qual lugar as mulheres devem ocupar na sociedade. A irmã de ferris só tinha ciúme e era estressada por falta de macho (admito que gostei dessa parte), e a namorada do playboy nada tem na cabeça alem do amigo banana e de casamento com o playboy.
Todas as cenas que mostram o diretor da escola são comedia pastelão mongol, sendo assim o melhor do filme.
um arremate essencial: passei a odiar o filme mais ainda na cena final quando ele desliga o som com uma bola de baseball que ele tirou de baixo dos lençóis (ou do toba).

O filme é preconceituoso com tudo que não é caucasiano, classe media e mainstream.
a nerdzinha no ônibus no final já nasceu zoada. o roqueiro é drogado, a irmã ciumenta é feia.
ele pergunta pro hispânico se ele fala inglês.

Muito importante também notar que no auge do filme (Twist and Shout) ele canta com play-back. isso encaixa perfeitamente. todos os ídolos de playboy cantam com play-back: nsync, back street boys, britney spears... etc...

Por que gostávamos? Talvez vocês possam me ajudar a responder essa. Sei lá... Já leu uma X-Men dos anos 80 depois de velho? Vamos pegar algumas coisas que crianças gostavam: Praticas politicamente incorretas (recorrentes em programas, filmes e desenhos animados da década.) vestuário estranho, coadjuvante de comédia, ataque a um inimigo comum a todos os baixinhos: o Diretor. "shades"...
sei lá... acho que gostávamos de qualquer merda da TV (He-Man por exemplo).

Esse filme abriu minha mente. pude perceber a verdadeira evolução dos filmes adolescentes. e apesar de clube dos cinco (que eu ainda acho bom) ter sido filmado antes de curtindo a vida adoidado, eu colocaria o segundo em primeiro numa cadeia evolutiva.
Primeiro você tem o playboy, que nasce playboy e exalta a "cultura" playboy.
outros filmes trazem o looser que sofre uma metamorfose, deixam de ser looser e viram playboy.
Depois veio o looser que se da bem, mas continua sendo quem era apesar de deixar de ser looser.
E finalmente nos filmes adolescentes de hoje em dia, onde você tem desde protagonistas que só se fodem, até loosers coadjuvantes que podem se dar bem e continuar sendo loosers (como McLovin em SuperBad).

De modo geral o filme é horrível. juro que assisti esperando que fosse um dos melhores filmes do mundo. todo mundo fala tão bem dessa porra! acredito que seja saudosismo da infância.
mas agora percebo o valor que isso pode ter pra mim. sempre pensamos que o passado foi melhor, que era tudo mais belo na infância.
Pois essa bosta de filme me mostrou que essas são barreiras talvez tão fortes quanto a fé. e como tal devem ser rompidas ou serão um ferio de burro.
Não quero destruir o Louvre, tampouco acho um carro novo mais bonito que a vitória de samotrácia.
mas sugiro que talvez devêssemos rever os clássicos e criticá-los sem barreiras morais, como se fossem novos. Sei que quem lê isso provavelmente lembra do filme como um momento mágico da sua infância e que provavelmente acha que eu to falando merda
ok...ok...
mas então peço apenas uma coisa. assiste a porra do filme Mais uma vez e tire suas próprias conclusões.
e depois se una ao clube...

SAVE FERRIS FROM HIMSELF!

6 comentários:

  1. Caralho, poucas vezes um texto me surpreendeu tanto falando sobre uma coisa tão rasa. Discordo de quase tudo o que tu falou, mas achei sensacional que tu tenha falado. Mandou muito bem Gui, sem medo da crueldade. Saudade putinha

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  2. Broder... tenho para mim que esse é o melhor texto que li de crítica de algum filme e o melhor deste blog. E quer saber? Concordo plenamente.

    Estou chocado. Me lembro de morar no Lago Sul com 10 anos de idade pulando na cama e achando esse filme o mais legal de todos. Caralho... ainda bem que meu pai faliu e fui morar no Morro Azul no Rio. Tenho certeza que não seria tão atitude quanto o marcello.

    Demais Gui! Demais!

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  3. É, só pode ser o saudosismo mesmo! Eu vi esse filme (novamente) há uns 2 meses, e ainda achei bom...
    Também concordo com o que o zé falou, foi uma das melhores críticas que já li na vida sobre algum filme.
    Se por um lado eu vi o filme há pouco tempo e achei bom, e por outro lado concordo com o Gui, a única explicação coerente que me ocorre é a nostalgia que rola. Talvez pela falta de responsabilidade e tranquilidade que eu tinha durante as várias vezes que vi esse filme quando criança.
    Esse post foi tipo um tapa na nuca do tipo "pedala robinho" ou "pescotapa".
    Por que diabos eu gostava desse filme?

    Valeu Gui!

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  4. fazia tempo que eu não vi esse filme. Só me lembro da parte dele tocando Beatles e dos coadjuvantes (a vadia, o looser, o diretor e a irmã). Provavelmente é uma merda como a maioria dos produtos culturais de massa dos anos 80.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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